Eliane
Cantanhêde
O emergente e a
potência
BRASÍLIA
- A beligerância verbal e as idiossincrasias entre o Brasil e os EUA esfriaram
muito de Lula para Dilma. E os interesses continuam.
O
Itamaraty está mais tímido, e Dilma não é tão bom produto de política externa
quanto Lula era, mas ela também é altamente popular, tem o trunfo real de ser a
primeira presidente brasileira mulher e é quem, de fato, dá a linha da
diplomacia brasileira -para os EUA, "uma diplomacia de valores, não só de
interesses".
É
possível acrescentar: sem uma busca frenética por lideranças que ou são
naturais, como na América do Sul, ou prematuras, como nas negociações de paz no
Oriente Médio.
Poucas
pautas de Dilma são tão ricas e importantes como a que ela leva para
Washington. Há desde o "Ciência sem Fronteiras" (intercâmbio de
estudantes que os dois lados enaltecem) até inúmeros entreveros comerciais, o foco
em energia e as espinhosas questões de Síria e Irã. Os EUA insistem na tática
de torniquetes financeiros, econômicos e comerciais, enquanto o Brasil
contra-argumenta que isso só piora as coisas.
No
caso da Síria, o Brasil tenta se equilibrar entre os EUA e a Rússia e a China
-parceiros nos Brics que dão suporte ao regime assassino de Assad-, mas o
embaixador Thomas Shannon (EUA) minimiza: "Brasil e EUA pensam quase
igual, o vocabulário é que é diferente". (Cá para nós, vocabulário é tudo
em diplomacia...)
Mas
a questão mais delicada nem é Síria, é Irã. O Brasil teme que a política de
sanções chegue a um resultado oposto, empurrando os aiatolás para a guerra. Já
os EUA pressionam o Irã para evitar, por tabela, que Israel vá às armas. A ação
do Ocidente seguraria os ânimos dos israelenses.
Portanto,
o lado mais visível da visita de Dilma aos EUA será a economia, mas o que vai
valer mais não será o dito em público, mas o não dito. Ou melhor, o dito entre
Dilma e Obama, a portas fechadas, sobre os sólidos interesses bilaterais e as
escorregadias questões internacionais.
elianec@uol.com.br
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