segunda-feira, 16 de junho de 2025



16 de Junho de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

E se os americanos entrarem na guerra?

Se os EUA se envolverem na guerra entre Israel e Irã, a situação se agravará ainda mais, uma vez que não só o poder de fogo americano é imensamente maior, como também atrairia outros países, por enquanto silenciosos (como Rússia e China), ao conflito, que se posicionariam ao lado dos aiatolás. Teerã diz que não tem como alvo os americanos - mas, cá entre nós, bastaria um erro de cálculo, um míssil iraniano, por exemplo, matando um cidadão dos EUA em Israel, para que os EUA se envolvessem. Ou mesmo uma embaixada ou consulado atingido por um dos braços armados iranianos, o Hamas, o Hezbollah ou os Houthis.

Por outro lado, Israel só conseguiria cumprir seu objetivo alegado de neutralizar o programa nuclear iraniano com o apoio militar dos EUA - caças israelenses atingiram a usina de Natanz, mas não conseguem destruir, por exemplo, Fordow, infraestrutura iraniana que fica dentro de uma montanha. Para tanto, os israelenses precisariam de bombas de penetração profunda, como a MOP, que só os americanos dispõem.

A simples identificação pelo Irã de que os EUA estariam apoiando Israel com armamentos serviria de argumento para os aiatolás mirarem alvos americanos na região: além de prédios diplomáticos, correm risco bases dos EUA no Iraque (Erbil), nos Emirados Árabes Unidos (Al-Dhafra), no Kuwait (Campo Arifjan) e a maior delas, Al-Udeid, no Catar. Sem falar de navios petroleiros no Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico.

O deslocamento de navios de guerra para a região, como efeito de dissuasão, já demonstra que Israel tem carta branca da Casa Branca. Informações de inteligência também devem estar sendo compartilhadas entre os dois países. Agora, se os EUA entrarem na guerra, será para derrubar o regime dos aiatolás - um preço caríssimo para Trump, que se elegeu, no passado, prometendo não envolver os EUA no que chamava de "guerras eternas" no Oriente Médio. _

Homenagens ao Bará no Mercado Público

Na mesma sexta-feira em que igrejas católicas da Capital celebravam o dia de Santo Antônio, o Mercado Público de Porto Alegre recebeu as tradicionais homenagens a Bará, orixá que, nas religiões de matriz africana, é considerado o guardião que abre caminhos.

Bará tem uma forte ligação com o Mercado Público. Seguidores dessas religiões acreditam que o orixá foi assentado, ou seja, fixado ritualisticamente em um objeto e enterrado durante a construção do edifício no ponto central do Mercado.

No final da noite de sexta, porém, a imagem do orixá, conduzida num andor, foi atacada nas proximidades do local. Um suspeito do ataque chegou a ser detido e encaminhado à polícia, mas foi liberado. O caso foi remetido à Delegacia de Combate à Intolerância da Polícia Civil. _

Entrevista - Fernando Brigidi - Gaúcho que atuou no gabinete de Kamala Harris

"Nunca me acostumei a trabalhar na Casa Branca"

Gaúcho de Porto Alegre, Fernando Brigidi trabalhou, durante o governo do ex-presidente democrata Joe Biden, no gabinete da vice-presidente Kamala Harris. De Nova York, onde mora, ele contou à coluna um pouco dos bastidores de seu período na Casa Branca.

Em 2021, você participou da campanha de Joe Biden e da vice Kamala Harris, que acabaram vencendo aquela eleição. O que mudou na sua vida?

Realizei um sonho de trabalhar na Casa Branca, de viajar o país com a vice-presidente, por mais de 22 Estados. Primeiro, trabalhei no Ministério da Agricultura, nos primeiros dois anos do mandato, e, depois, no gabinete dela. Orgulho de representar os latinos no governo, e do que conseguimos construir, e, depois, nos 107 dias em que ela era candidata a presidente.

Qual era a sua função na Casa Branca?

Comecei como assessor, mas minha função no gabinete da vice-presidente depois era de diretor adjunto de engajamento político e relações institucionais. Na prática, significava que toda vez que ela viajava ou fazia um evento na Casa Branca, organizávamos os grupos políticos que tinham de estar representados. Então, foi bem gratificante. Em março de 2024, fui com a vice-presidente a Selma, Alabama, para ela cruzar a ponte em que 59 anos antes negros tinham sido massacrados ao tentarem voltar. Cruzar a ponte com a primeira vice negra foi muito emocionante. Foi também no discurso dela que, pela primeira vez, alguém do primeiro escalão usou o termo "cessar-fogo" em relação à guerra no Oriente Médio.

Como era o convívio com Kamala Harris?

Era inspirador. A primeira mulher negra vice-presidente. Ela conta que, quando criança, participou de uma das primeiras turmas de um projeto piloto de integração entre crianças negras e brancas. Saber que ela veio daquele momento para o gabinete de vice-presidente era muito importante. Também pelas características dela: resiliência, de ter uma ambição muito grande. São coisas que me inspiravam e com as quais eu me identificava. Ela falava o tempo inteiro para nós que o serviço público é um sacrifício. Nos Estados Unidos, diferentemente do Brasil, a instituição privada paga muito mais e se tem muito mais liberdade. A vida pessoal é muito mais confortável. No serviço público, a gente trabalhava 24 horas por dia, sete dias por semana. Lembrava sempre que o trabalho que a gente fazia, nas nossas pequenas decisões no dia a dia, impactava milhões de pessoas.

Como era trabalhar dentro da Casa Branca?

Quando comecei, algumas pessoas me falavam "Tu vai acabar te acostumando". Eu nunca me acostumei. Todos os dias que eu entrava lá, eu me sentia muito especial. Como assisto muitos seriados americanos sobre política, parecia que eu estava literalmente vivendo um filme. Teve dois momentos impactantes: o primeiro foi quando eu participei da festa de Natal, dentro da Casa Branca, com o presidente. A gente estava jantando no salão dos banquetes, onde acontece aqueles jantares entre o presidente e um rei. Estávamos lá, eu e meu marido, jantando naquele espaço, e foi inacreditável. E um outro momento foi quando o presidente estava saindo do governo. Ele fez o último discurso social de dentro do Salão Oval, e a tradição, ele sai do Salão Oval e, depois, caminha para os salões, que são mais de cerimonial. Estava toda a equipe lá, eu estava lá. Foi super especial vê-lo se despedindo do país e de sua equipe, agradecendo a todo mundo. Ele disse para a gente manter a fé no povo americano, na democracia. A gente já imaginava que o governo Trump seria muito difícil para quem tem valores progressistas. Mesmo naquele momento, ele estava tentando nos motivar.

Houve algum outro momento emocionante?

Quando eu levei a minha mãe para visitar a Casa Branca, eu mostrei para a minha mãe o Salão Oval: uma professora pública estadual do Rio Grande Sul. Não são muitas as pessoas que têm essa experiência. Foi bem especial. _

INFORME ESPECIAL

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