sábado, 28 de junho de 2025


28 de Junho de 2025
ANDRESSA XAVIER

Sanguessugas

Aumentar o número de deputados virou urgência nacional, mas só para quem vive da política, não para quem vive no Brasil real. Foi com uma agilidade comovente que o Congresso Nacional se debruçou sobre esse projeto. Um empenho raro, que não se vê quando o assunto é importante para a população.

Um país de área territorial continental, cheio de desigualdades, que empilha problemas no atendimento à saúde, educação, habitação e segurança pública. Um país que precisa de reformas profundas e robustas. Acontece que, quando é para aprovar medidas que melhorem a vida do cidadão comum, o processo emperra, a pauta trava, o calendário complica, não tem quórum. Agora, quando é para ampliar o próprio poder e o acesso a mais verbas, cargos e emendas, o tema se torna prioridade. O IBGE de fato mostrou que os números populacionais mudaram, e é praxe corrigir, mas a ideia era redistribuir a representação. Quer dizer, aumentar para onde tem mais gente, diminuir onde a população encolheu. Para não perder nem desagradar ninguém, o Congresso entendeu que era o caso somente de aumentar as cadeiras.

Uma medida como essa só não vai indignar quem está anestesiado. O Brasil, após as eleições de 2026, passará de 513 para 531 deputados federais supostamente representando o povo no Congresso. São 18 cadeiras a mais. Mas não é só isso. São mais 18 gabinetes. São mais gastos com assessores, carros, apartamentos funcionais, passagens aéreas.

O site da Câmara informa que o valor mensal da verba de gabinete é de pouco mais de R$ 133 mil. Esse valor é para o pagamento de salários dos secretários parlamentares que ganham entre R$ 1,5 e R$ 9 mil. São funcionários que não precisam ser servidores públicos e são escolhidos diretamente pelo deputado. Ah! Cada parlamentar pode ter entre cinco e 25 secretários parlamentares para prestar serviços de secretaria, assistência e assessoramento direto e exclusivo nos gabinetes dos deputados, em Brasília, ou nos Estados de origem.

Trata-se de inchar ainda mais um Congresso que custa bilhões aos cofres públicos, em um país que sequer consegue garantir os direitos básicos. Estamos falando de um escárnio. Um deboche. Mais um tapa na cara do cidadão simples mortal.

É mais um capítulo da velha política brasileira do toma lá dá cá, das emendas escandalosas, do governo refém de um Congresso de sanguessugas. Não há justificativa moral nem econômica para aumentar o número de deputados. Ao contrário, deveriam diminuir, talvez pela metade. Garanto que não haveria prejuízos à democracia ou aos interesses da população. O Congresso, em vez de agir a serviço do Brasil, faz tudo como se fosse dono dele. 

ANDRESSA XAVIER

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