sábado, 28 de junho de 2025


28 de Junho de 2025
MARCELO RECH

Enigma no Irã

Só há uma maneira de se descobrir se a trégua entre Israel e Irã será duradoura ou se, em breve, assistiremos a uma nova saraivada de bombas e mísseis no Oriente Médio. A resposta a esta questão, com implicações na vida de todos os habitantes do planeta, está na real identificação do grau de destruição das centrais nucleares iranianas e na sua capacidade de seguir enriquecendo urânio para construir ogivas atômicas.

Até agora, o que se tem são versões divergentes e contaminadas por interesses políticos. O presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, asseveram a devastação do programa nuclear e delimitam em anos o atraso do enriquecimento. As duas convicções contradizem um relatório da Agência de Inteligência e Defesa do Pentágono que enfureceu Trump. Pelo Pentágono, o ataque dos EUA bloqueou as entradas da central de Fordow, mas não destruiu suas instalações subterrâneas.

Pelo lado do Irã, qualquer informação oficial tem o valor de uma nota de três dólares porque o interesse imediato é evitar o prolongamento da pancadaria a que foi submetido por Israel. Proclamar que as centrais foram "gravemente danificadas", como disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, não tem validade, portanto. Dissesse ele o contrário, estaria atraindo novos ataques. Já a estimativa do diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, é de "danos muito significativos" em Fordow.

Todas as avaliações têm baixo valor na bolsa de apostas sobre uma nova fase da guerra até que uma comissão independente da AIEA possa acessar de forma presencial e com passe livre as instalações iranianas. Como o parlamento iraniano rompeu com a agência nesta semana, o enigma da verdadeira situação do enriquecimento de urânio, ainda que a espionagem esteja tentando fazer seu trabalho, deverá perdurar um bom tempo pela frente.

A trégua obtida por Trump é uma vitória pessoal dele, mas que precisa ser seguida pela retomada de negociações para o fim do programa iraniano. Desde que o porrete saiu da mesa e desceu sobre o Irã por 12 dias, o argumento ficou mais forte. O máximo que Teerã pode fazer agora é embromar o resto do mundo enquanto decide o destino dos 408 quilos de urânio enriquecido a 60% - a apenas um terço do necessário para 10 ogivas nucleares -, dos quais ninguém sabe, ninguém viu, o paradeiro.

Ao longo de décadas, o regime dos aiatolás vendeu a balela de que o seu programa era pacífico, como se isso fizesse sentido quando se enriquece urânio 12 vezes acima do necessário para a produção de energia elétrica e, ainda mais, quando o faz sob centenas de metros no subsolo. Neste conto, ao menos, espera-se que ninguém caia mais. 

MARCELO RECH

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