
16 de Junho de 2025
OPINIÃO RBS
Um risco global
O exército de Israel admitiu em relatório publicado em fevereiro que o ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 ao seu território foi fruto de erros graves de seus serviços de inteligência. Foram mal avaliadas as informações sobre as reais intenções do grupo terrorista de empreender uma ofensiva no nível executado. Subestimou-se a capacidade da milícia armada financiada pelo Irã de realizar a invasão que resultou em 1,2 mil mortos e 250 sequestrados.
As repercussões dos infames acontecimentos de um ano e oito meses atrás são sentidas até hoje com o conflito na Faixa de Gaza. Perduram com o sofrimento dos que ainda são mantidos reféns no enclave e com a angústia das famílias israelenses e de outras nacionalidades que seguem à espera ao menos da devolução dos corpos. Permanecem com o padecimento dos palestinos, população que o Hamas não hesitou em usar como escudo e sacrificar, por saber que a resposta militar de Israel seria contundente.
A ofensiva aérea de Israel contra o Irã, no final da semana passada, deve ser vista pela perspectiva da prevenção a um ataque com armas atômicas, com consequências inimagináveis. Os israelenses miraram, sobretudo, as instalações nucleares e a capacidade de obtenção de armamentos de extrema potência destrutiva pelo país persa, governado por uma teocracia que não esconde seu grande objetivo: varrer Israel do mapa. É o mesmo propósito, aliás, do Hamas, um dos tentáculos armados por Teerã, assim como o Hezbollah, no Líbano, e os Houthis, no Iêmen.
Há décadas a comunidade internacional tenta impedir o Irã de ter arsenal atômico. Na quinta-feira, horas antes do início do bombardeio, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), instância reguladora da área da ONU, adotou uma resolução condenando o Irã, acusando-o de violar obrigações de não proliferação de armas nucleares. Citou "material nuclear não declarado e atividades em vários locais não declarados". Relatou ainda que os iranianos se aproximavam de ter urânio enriquecido no patamar de pureza necessário para armas. A reação do regime dos aiatolás foi a de dobrar a aposta e informar que aumentaria "significativamente" o enriquecimento de urânio.
O contexto das tensões no Oriente Médio, somado ao alerta da AIEA, o primeiro em 20 anos direcionado a Teerã, mostra a inexistência de garantias de que o programa nuclear teria apenas objetivos pacíficos. A possibilidade de o Irã atacar Israel com armas de destruição em massa, portanto, deixou de ser conjectura improvável para se tornar uma ameaça de caráter existencial para o Estado judeu bastante plausível.
Democracias liberais do Ocidente, da mesma forma, não poderiam se considerar a salvo. Os indícios de propósitos militares do Irã, além do precedente de outubro 2023, explicam e amparam a ação preventiva de Israel. Não é razoável, afinal, esperar racionalidade e diálogo de um regime guiado pelo radicalismo religioso, opressor do próprio povo.
França, Alemanha e Reino Unido, que vinham criticando o governo Benjamin Netanyahu pela situação atual em Gaza, voltaram a ressaltar o direito de Israel de se defender. O conflito escala, com israelenses realizando novos ataques e iranianos respondendo com chuvas de mísseis, atingindo alvos civis de forma indiscriminada.
O desejável, obviamente, seria uma saída diplomática e a obtenção de garantias verificáveis de que o Irã abre mão de projetos bélicos atômicos. Só não se pode negar os altos riscos de não existir essa certeza, pela conduta pregressa do regime. Não só o Oriente Médio, mas o mundo se tornaria mais perigoso se um governo que coleciona inimigos e se move pelo fundamentalismo primitivo conseguisse alcançar tamanho potencial destruidor.
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